segunda-feira, 1 de julho de 2013

No fundo do mar e na areia da praia: projetos de limpeza das praias de Salvador

Por: Isabella Pallos

Ainda há salvação na limpeza do nosso mar e das nossas tão famosas praias. É que o Centro de Pesquisa e Conservação dos Ecossistemas Aquáticos ou como é chamado, Biota Aquática, luta na preservação deles e faz parte de projetos para chamar a atenção dos Soteropolitanos.
A ONG surgiu em 22 de abril de 2005 com um grupo de biólogos e de ainda estudantes de ciências biológicas que tinham como objetivo em comum realizar pesquisas e ações para com a preservação dos ecossistemas aquáticos.

Conversei com dois dos biólogos que fazem parte do projeto. Rodrigo Maia-Nogueira, 38 anos e Janete Abrão, 28 anos.

Rodrigo que é um dos fundadores do grupo começou a trabalhar com meio ambiente em 1997, quando entrou para o projeto MAMA e não parou mais. “De lá pra cá venho participando de ações e apoiando atividades de diversas instituições governamentais e não governamentais, tais como o Instituto Mamíferos Aquáticos, a Fundação Mamíferos Aquáticos, o Instituto Baleia Jubarte, o Greenpeace, a Fundação SOS Mata Atlântica, o IBAMA, o ICMBio, a Conservation International, a UFBA, etc.”, disse o biólogo.

Janete é bióloga formada pela Universidade Católica do Salvador, desde 2007, e durante a graduação trabalhou com mamíferos aquáticos e atualmente trabalha em consultoria ambiental na área da Mastofauna terrestre. Entrou na Biota para fazer pesquisas com Mamírefos Aquáticos a convite de Rodrigo. Trabalha também no projeto de educação ambiental infantil, o biotinha, ministrando palestras em escolas e com atividades lúdicas nos eventos da Biota, com o foco sempre no lixo.

Repórter: Qual o principal projeto da ONG?
Rodrigo: Não existe um principal projeto.  Atualmente temos quatro programas sendo executados, cada um com os seus projetos e ações:
1) Programa Biotinha – programa de educação, orientação e sensibilização ambiental e de cidadania voltado ao público infantil. Promove palestras, oficinas, etc.
2) Programa Lixus humanus  - Programa de políticas públicas, ações e gestão dos resíduos sólidos. Atividades de limpeza de praia como o Cleanup Verão e o Cleanup Day Bahia que acontecem após o carnaval e em meados de setembro respectivamente fazem parte deste programa.
3) Programa Fauna Invasora – Programa de pesquisa, erradicação e promoção de políticas públicas relacionadas às espécies exóticas invasoras na baía de Todos os Santos e costa Atlântica da cidade do Salvador. Neste programa estamos atualmente estudando a invasão do peixe Omobranchus e realizando ações de erradicação e controle do coral-sol (Tubastraea spp.).
4) Programa Biota Aquática do litoral Soteropolitano – Este programa visa realizar diagnósticos ambientais com checklist das espécies existentes, definição da estrutura e status populacional e de conservação, identificação das pressões antrópicas que estas espécie sofrem nesta região, e elaboração de planos de conservação que visem mitigar tais pressões. Atualmente está sendo desenvolvido o diagnóstico da biota aquática nos naufrágios mergulháveis de Salvador e o impacto da atividade de mergulho recreativo sobre as comunidades. Outro projeto realizado neste programa foi o diagnóstico de poças de maré de Salvador, projeto este que se encontra parado no momento uma vez que os pesquisadores responsáveis estão impossibilitados de dar continuidade, porém pretende-se reiniciá-lo em breve.
Repórter: De onde partiu a ideia da “ONG” participar do projeto “Salvador, viva, ame, cuide”?
Rodrigo: Na verdade ocorreu o contrário, o pessoal do projeto “Salvador, viva, ame, cuide” que nos procurou propondo parceria nas ações que já realizávamos, apoiando nossas ações em troca de apoio nosso em suas ações com o objetivo de ampliar o leque de possibilidades das suas ações incluindo o lixo marinho. 
A primeira parceria se deu durante o Cleanup Verão 2013 com o fornecimento de camisas e realização de um vídeo de divulgação por parte do “Salvador, viva, ame, cuide”, em contrapartida instalamos uma tenda de educação ambiental (Biotinha) em um evento deles realizado em 31 de março no dique do Tororó.
Estamos organizando com eles uma grande ação de limpeza de praias a acontecer simultaneamente em diversas praias de Salvador com a participação de vários grupos de pesquisa e ONGs. Esta ação sem data definida no momento terá o apoio logístico do “Salvador, viva, ame, cuide” e a coordenação do “Biota Aquática”.
Além do “Salvador, viva, ame, cuide” tiveram igual importância para o evento a escola e operadora de mergulho Bahia Scuba, o Grupo VEXA, a Ichtus Soluções Ambientais, o Zoo Salvador, o Grupo de Voluntários do Greenpeace de Salvador, o Grupo de Voluntários do 350.org, o grupo Mundo Limpo e a Fun Dive.
Repórter: E o CleanUp Day? Você pode explicar sobre o projeto?
Rodrigo: Hoje temos duas atividades anuais de Cleanup (limpeza de praias), o Cleanup Verão que é realizado após o carnaval e o Cleanup Day que é realizado em meados de setembro no dia mundial de limpeza de praias.
Esta ação ao contrário do que muitos pensam não tem como objetivo limpar a praia, já que se sabe que o lixo recolhido foi gerado nos dias que antecedem a ação e em poucos dias ou horas já estaria tudo sujo novamente, o objetivo é incomodar a população trazendo à tona o problema com o intuito de provocar reflexões que sensibilizem as pessoas atingidas a adotarem condutas conscientes ao frequentarem uma praia. Por isso quando falam do evento, mau ou bem, estamos atingindo nosso objetivo e isto é contabilizado, afina para falar a pessoa teve que pensar no assunto.
Durante os Cleanups realizamos a retirado do lixo na faixa de areia e dentro d´água em mutirões organizados, identificamos os itens coletados e atribuímos informações qualitativas e quantitativas a estes que auxiliarão na identificação das fontes e na promoção de políticas públicas. Além da “limpeza” realizamos intervenções diretas com a finalidade de incomodar um pouco a população da praia, tais como amontoar o lixo recolhido durante o dia em um determinado ponto, etc ... E realizamos ações de sensibilização e orientação com as crianças da praia, unindo atividades do programa Lixus humanus e do Biotinha.
O Cleanup vem sendo realizado pelo Biota Aquática desde 2006 com um grupo restrito de voluntários e atingindo 40-45 pessoas, tendo tido o seu auge em 2010 com mais de 9.000 pessoas atingias de forma direta contando com quase 140 voluntários. No verão deste ano ampliamos o número de pessoas atingidas de forma indireta para mais de 26.000 (17.000 só em Salvador) apesar de termos tido um resultado menos expressivo quanto a pessoas diretamente atingidas (entre 1.500 e 1.800 pessoas) e no número de voluntários que chegou a algo próximo de 50.
Repórter: Como é participar de um projeto grandioso que teve bastante repercussão na mídia?
Janete: É prazeroso, não necessariamente pela repercussão na mídia, mas pelo resultado que todo projeto de sensibilização tem como finalidade... que mesmo sem o projeto, mas em decorrência de sua sensibilização as pessoas envolvidas adquirem  consciência e perpetuam o que foi passado, no caso, evitando jogar resíduos em locais indevidos e a cada ano, temos pessoas mais participativas, muitas vezes nos abordando para falar da importância do projeto, isso é gratificante.  Falando por mim, sinto que faço uma pequena diferença.
Rodrigo: É extremamente satisfatório acompanhar o crescimento de uma ação que introduzimos e espero que com a repercussão venha o resultado que será um aumento da consciência da população.

A ONG tem site, facebook e email para contato (contatos@biotaaquatica.com) pra quem quer ficar mais por dentro dos projetos e se quiser participar de alguma ação.







sexta-feira, 28 de junho de 2013

Crônica ao volante

Por Leandro Aragão
Fotos de Leandro Aragão

Depois da terceira soneca ele levantou da cama. O relógio marcava seis e meia da manhã. Saiu de casa cinqüenta minutos depois e enquanto ligava o carro pensava no trajeto que faria até a faculdade, cogitando os trechos onde teria engarrafamento. Optou pela Orla, ao invés da ACM – Paralela. Preferia enfrentar o engarrafamento com a brisa do mar, vendo as ondas e as mulheres se exercitando.

Ao abrir o sinal, um carro o cortou ao fazer a curva para entrar na avenida da Orla. “As pessoas não sabem fazer curva, esquecem que tem outro carro do lado”, pensou. Ligou o som do carro e colocou sua reza diária que lhe traz proteção e sorte, “Meu glorioso São Cristóvão” de Jorge Ben. Abriu as janelas do veículo, respirou fundo sentindo o cheiro da maresia, mas hoje não viu o sol. Ao invés disso, caía uma chuva fina. Na subida do Jardim do Alah, apenas uma das três faixas estava livre para quem seguia sentido Itapuã. O motivo? Uma obra? Não. Mas um buraco seria compreensível, já que as ruas de Salvador são de sonrisal e se derretem na primeira chuva que cai. Mas essa também não era a causa. O problema é que os motoristas de Salvador só olham para o próprio umbigo. Para fazer o retorno que dá acesso ao Costa Azul, as pessoas criam mais uma faixa e como tem sinaleira ficam paradas no meio da pista atrapalhando a vida de quem quer seguir reto. Quem está na pista do meio tem que desviar para a terceira faixa e os que vêm nessa faixa tem que reduzir para deixar os outros passarem e assim forma o bolo.

A reza termina. Para que o trânsito não acabe com o seu bom humor precocemente, ele coloca “When the music’s over”, do The Doors e inicia sua aula de teclado. Depois de aprender a tocar sua guitarra e seu baixo imaginários, está treinando teclado. Tudo isso é para desviar sua atenção para não se estressar com os outros motoristas que pensam que furar fila só é falta de educação no cinema ou no banco. Mas não no trânsito. As pessoas cortam por entradas de estacionamentos públicos para passar na frente de todo mundo. Para não correr o risco de brigar no trânsito, ele muda para a faixa da esquerda. Na altura do antigo clube do Bahia, o engarrafamento volta a se formar, pois o que eram três faixas se tornam apenas duas, por pura visão de futuro de quem projetou a avenida. A velocidade não passa dos 30 km até o retorno para quem vai pegar a avenida Pinto de Aguiar. Aliás, ele mora na Pituba, mas para pegar a Paralela, ele não comete a insanidade de passar pelo Imbuí, muito menos pela rua dos motéis, a avenida Pinto de Aguiar. Prefere ir até o Bairro da Paz para entrar na avenida Luiz Viana.





A música de 16 minutos termina e já cansado de treinar no seu teclado, então ele coloca “Who scared you?”, também de Jim Morrison e Cia. A aventura no trânsito já dura quase meia hora, mas o pior está por vir. Após entrar na Paralela e pegar o retorno para chegar na faculdade, ele se depara com o mar de carros com os faróis vermelhos acesos.

Depois de quase 1 hora de trânsito, finalmente ele chega ao seu destino, cujo trajeto com a pista livre seria feito em no máximo 25 minutos. Já dentro do prédio ele se depara com outro engarrafamento, mas dessa vez o sinal vermelho é o elevador que ainda não chegou. Quando a porta abre os motoristas, perdão, as pessoas não respeitam a fila e quem estava do lado da entrada, mal esperam as que já estão do elevador sair e já vão metendo a cara. “Na verdade a falta de educação não está apenas no trânsito e sim nas próprias pessoas”, concluiu.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Falta de educação nos ônibus

Por: Marília Princy e Lorena Dias

Os saltos tocam os degraus do ônibus e ela já entra fazendo barulho. Brinca com o motorista, com o cobrador e depois, dizendo ser professora, resolve dar uma aula aos passageiros. “Classe, peguem o papel e a caneta para anotar a lição. Pegaram? Aqueles lugares ali são reservados para grávidas, idosos e deficientes. Estão anotando?”, diz. Em seguida, explica que tratam-se de lugares preferenciais e conta histórias de pessoas que esquecem desse pequeno detalhe, tirando gargalhadas dos passageiros. O assunto é retratado com humor, mas o tema é sério.


Ela, a Professora Luzinete, na verdade é ele, o ator baiano Genny Santos que sai às ruas vestido de mulher para conscientizar as pessoas que usam o transporte coletivo. “Fui rodoviário durante 15 anos. Deixei a profissão de motorista pra atuar e é justamente por isso que tive essa facilidade de criar o texto que apresento hoje nos ônibus”, conta Genny. E a falta de educação é um dos principais temas abordados em sua “peça itinerante”.

Além do desrespeito aos lugares preferenciais, a Professora Luzinete também fala dos passageiros que não usam fone de ouvido, das pessoas que demoram a pagar o cobrador e também daquelas que ocupam quase todo o espaço dos bancos. A estudante Karime Lisboa, 19, pega ônibus todos os dias e conta que presencia muitos dos exemplos citados pela Professora Luzinete. Para ela, ações como a do ator Genny Santos ajudam na conscientização dos passageiros. “Ele está fazendo uma coisa para que as pessoas de alguma forma prestem atenção. Sempre fica alguma coisa, mesmo que você não perceba na hora, aquilo fica na cabeça”, afirma a estudante.

Mas não são apenas os passageiros que precisam se conscientizar. Motoristas e cobradores também devem estar atentos sobre a forma como se relacionam nos transportes coletivos. “Tem muitos que estão estressados e quer sair da empresa e joga em cima dos passageiros. E não tem nada a ver, porque se você tiver algum problema tem que conversar com a empresa”, conta o cobrador Raimundo dos Santos, que trabalha há 13 anos como rodoviário. Para ele, o estresse do dia-a-dia não é motivo para tratar mal as outras pessoas. “Ninguém tem nada a ver com o problema dos outros. Se tiver algum problema, é melhor deixar em casa”.

Apesar de não ser justificativa pra o mal comportamento, para a psicóloga Maria José Carballal, o estresse diário influencia no comportamento das pessoas dentro dos transportes coletivos.  “Se no ônibus a pessoa tivesse a certeza de que iria caber todo mundo ou que o próximo viria rapidinho, não precisava viver com tanta angústia na batalha pelo deslocamento”, afirma a psicóloga, defendendo que uma melhora na qualidade do serviço de transportes afetaria positivamente no comportamento dos passageiros.


Enquanto o governo não toma as providências que melhorariam o transporte, pessoas como Genny Santos continuam fazendo sua parte, no sentido de melhorar a situação daqueles que dependem do transporte coletivo. “Não depende só do governo, depende de cada um de nós”, afirma o ator. E é por isso que ele continua indo nos ônibus, lembrando as pessoas de atitudes simples, que vão se perdendo no estresse do dia-a-dia. “Eu vejo uma carência de incentivo da mídia em estar divulgando e fazendo campanhas educativas, porque se isso for feito com mais frequência, acho que as pessoas acordam”.

Assista um pouco da "aula" da Professora Luzinete:

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Conviver com os vizinhos é uma tarefa fácil?



Conviver em sociedade, não é uma tarefa muito fácil. Os conflitos estão presentes na relação entre as pessoas, seja porque elas são diferentes, seja porque têm objetivos e interesses diferentes. A convivência envolve paciência e compreensão. Por isso, a vida em condomínio pode se tornar ainda mais complicada, já que moradores, diferentes entre si, compartilham um mesmo espaço de residência.

Entre os itens de maior conflito nessa complicada relação, estão: música em volume alto, brincadeiras das crianças, latidos dos cães, festas particulares, obras, uso da piscina, vaga de estacionamento, entre outros. Para conviver em harmonia, é preciso bom senso para distinguir limites.

Uma discussão entre vizinhos por causa do barulho, ocasionou a morte de três pessoas. O crime aconteceu em um condomínio de luxo, em Santana de Parnaíba, cidade da região metropolitana de São Paulo. A discussão teve início quando Vicente D'Alessio, de 62 anos, invadiu o apartamento dos vizinhos após sair de sua casa comunicando à esposa que iria "resolver o caso". Ele começou uma discussão com o empresário Fábio de Rezende Rumbim, de 40 anos, que também era subsíndico do condomínio.

Luciene Assis, enfermeira, moradora do bairro de Paripe, Subúrbio Ferroviário de Salvador, há algum tempo está tendo problemas com os vizinhos de sua rua. "Os vizinhos daqui da rua, colocam som alto todo o final de semana, chego tarde do plantão, e sou obrigada a ficar ouvindo Pablo até umas horas. Tem hora que cansa né?"

Patrícia Almeida, professora, moradora do bairro do Imbuí, em Salvador, também reclama de alguns vizinhos: "Aqui no prédio temos problemas com as vagas de estacionamento, existem vizinhos que estacionam em vagas que não são suas, isso causa o maior auê" 

Rita Soares, bancária, moradora do bairro de Itapuã, reclama do uso da piscina em seu condomínio. "É permitido a cada morador levar dois visitantes para a piscina, mas infelizmente essa regra não é cumprida. Tem finais de semana que a piscina fica parecendo o "Piscinão de Ramos" de tanta gente tomando banho. Já fui sindica daqui do condomínio e sei como é isso." 

Os conflitos podem ser de diversas naturezas: seja do morador que não paga em dia seus compromissos, o funcionário que processa o condomínio, ou uma briga entre vizinhos, há diversas maneiras de resolver o entrevero legalmente.
Em dezembro de 2012, a Revista Super Interessante publicou um manual de Como Resolver Problemas com Vizinhos.
Festa no apê

Faça o primeiro contato com o vizinho, isso mostra que você não quer prejudicá-lo. Se você falar com o síndico, ele pode acabar multado. Se o problema for reincidente, grave o barulho como prova. Vale também buscar uma testemunha neutra, como outro vizinho. Com as provas em mãos, vá ao síndico e registre sua reclamação. Se também não resolver, você sempre pode chamar a polícia, mas é provável que eles tenham algo mais importante para fazer. 
Carro Atravessado


Fotografe o carro ocupando a sua vaga. Fale com a portaria ou zelador para que eles localizem o dono do veículo. Peça para eles exigirem a retirada dele. Suba para o seu apartamento. Neste caso, não há por que você falar diretamente com o proprietário do veículo. Em discussões que envolvem carros, o número de agressões e brigas costuma ser maior do que nas outras.
Dicas para todas as situações

* Manter a calma
* Conversar amigavelmente
* Não fazer ameaças nem insultos
* Usar o bom senso










sexta-feira, 21 de junho de 2013

"A fome das feras naquele jejum..." (Tom Zé)


Parece inevitável fazer mais um registro.
De 17 até 20 de junho de 2013, o Brasil passava por momentos de glória. O povo havia finalmente acordado e decidido tomar de volta tudo que lhes foi tomado de assalto pelos nossos governantes. Que beleza!
Estive no Campo Grande no dia 20 e havia caras pintadas, cartazes com os dizeres mais impactantes do mundo, pessoas engajadas, corajosas, crianças lutando pela sua nação. Tinha deficientes físicos representando a resistência. Tinha gente do bem fazendo música na paz. Meninas agarradas e enroladas nas suas bandeiras iludindo-se ao pensar que atacá-las seria um crime contra a bandeira. O hino nacional ecoava por aquele corredor estreito, cheio de esperança.
Era de arrepiar.
E não é que aquele movimento sem pauta e sem partido tinha dado certo? As pessoas gritavam por socorro, clamavam por um país melhor de se viver.

Foto: Claudio Colavolve


Foto: Claudio Colavolve


Foto: Claudio Colavolve





Foto: Tais Reis



Mas o cenário mudou! Lara Tironi, estudante de direito da Universidade Federal da Bahia, foi acompanhada dos pais e avós para a manifestação, ela relatou o ocorrido no Vale dos Barris Uma manifestação mais que pacífica encontrou pela frente uma emboscada. Não havia policiais acompanhando a manifestação em nenhuma parte do caminho entre os bairros do Campo Grande e dos Barris, sinal claro de que algo não muito bom estava por acontecer. Dito e certo. Quando a manifestação chegou ao bairro dos Barris, onde ficam o campo de barro e a pista de skate, lá estava o circo armado, pronto para pegar fogo. E pegou.”

Foto:David Lingerfelt


Foto:David Lingerfelt


Foto:David Lingerfelt


Nesta legenda tinha escrito: "O pacificador. Agiu como um Gandhi...tentando acalmar manifestantes violentos e conversou todo o tempo com a polícia. Após o estopim, saiu amargurado. Creio que com sentimento de decepção. " Foto: David Lingerfelt




O fato é: o movimento que estava sustentado em um simbolismo incrível de pessoas unidas nas suas diferenças, foi atacado no meio caminho. O estado resistiu brutalmente, culpados saíram ilesos e guerreiros saíram feridos.

Henry David Thoreau - "A Desobediência Civil" pág 39.

Mas temos um problema! Oportunistas #forampararua e acabaram fazendo com que o Povo, ainda não representado, fosse forçadamente estigmatizado de vândalos e baderneiros. Acontece, é histórico, as pessoas rotulam o Brasil muito facilmente! Futebol, carnaval, mulher, essas coisas sabe como é?
Adrielle Coutinho, dona do perfil no twitter @bahiadepressao desabafou lá pelas tantas, via Facebook: “Estão queimando uma bandeira do movimento NEGRO na Rua Brigadeiro em São Paulo. Eu não quero mais saber dessa luta sem pauta. ACABOU PRA MIM!!”
Infelizmente e com muito pesar, escrevo que o movimento do bem foi ofuscado pelos vândalos.
Só em Salvador, presenciei elementos invadirem o Teatro Castro Alves e quebrarem 2 vidros da instituição. Todos os pontos de ônibus daquela região foram destruidos. Lixeiras arrancadas e mais adiante lojas foram saqueadas, destruidas e apedrejadas. Laís Nogueira, estudante de jornanismo (nossa colega) e estagiária da TVE, postou uma imagem do carro de reportagem pichado, com símbolos de uma revolta desmedida e egoista. Não temos patrimônio, vamos destruir o que ainda nos resta?
Além de vandalismo ainda consegui registrar cenas de extrema falta de educação dos manifestantes, pessoas que queriam simplesmente ficar de cara pintada, espalhavam lixo por todos os cantos, atentando contra o próprio movimento que reivindica por educação.

Foto: Lais Nogueira

Fonte: Ibahia

Fonte: Jornal Correio



Foto: Marília Randam



Neste cenário conturbado, mais uma colocação de Adrielle me chamou atenção  "Nem Hitler nem Mussolini criaram suas multidões; eles se apropriaram de multidões descontentes sem rumo, e lhes deram rumo "E é por isso que cada vez mais tenho medo dessa luta que se tornou sem partido, sem pauta, sem causa e o pior de tudo na mão de um grupo que se denomina ANÔNIMO.”
O povo brasileiro recém conquistou o direito de se manifestar e tem gente fazendo de tudo para destruí-lo. Quem ontem dormiu esperançoso, hoje dorme com receio de ser mais um Mentos pra essa geração coca-cola, 20L, sem tampa.



Quem quiser, vale a dica musical que deu título para esta matéria, o nome da música é Tropicália Jacta Est! Divirtam-se! 



quinta-feira, 20 de junho de 2013

Inclusão: direito e não caridade



Inclusão: direito e não caridade


Por Daniela Cunha

Uma das principais preocupações dos pais quando tem um filho é sobre o futuro deles e como educá-los da melhor forma possível. Se esse assunto já atormenta naturalmente, imagine aos pais de crianças nascidas em Salvador que tem alguma deficiência. Preconceito, intolerância e direitos negados, essa é a realidade por qual passam essas crianças e suas famílias.  
Buscando mudar essa realidade alguns grupos são criados para lutar por essa causa. Como é o caso do “Educação Inclusiva: Queremos Podemos!”, grupo formado a três meses a partir da iniciativa da mãe de um autista.  
No dia 24 de maio aconteceu uma sessão na Assembléia Legislativa da Bahia - ALBA, proposta pela deputada Neusa Cadore. Essa foi a primeira ação do grupo que pretendia nesse momento buscar alternativas para inclusão escolar de qualidade. Da reunião participaram o Conselho Estadual e Municipal de ensino além de representantes de colégios das redes públicas e particulares.

Durante a sessão foram debatidas algumas reivindicações do grupo, como a que os centros de ensino de Salvador precisam preparar melhor seus professores para atender estudantes com deficiência, além da necessidade de que existam mais cursos em universidades para preparar esses profissionais. “Desejamos conscientizar as pessoas, mostrar a eles que estamos lutando por um direito. Não é caridade, é uma obrigação. Pretendemos sensibilizar o ser humano gestor e educador”, explica Edilene Medrado, educadora e integrante do grupo.  


  
Segundo o doutor em inclusão e educador, Anderson Spavier, movimentos como esses formados por pais são de extrema importância, já que a família é a mola propulsora para ativar os processos de inclusão. “Se não há um trabalho de conscientização da família para que ela supere o que a literatura científica chama de "luto psicológico", esse processo inclusivo não é ativado”, afirma.
No Brasil, pessoas com deficiência de qualquer idade têm o direito de receber um auxílio de um salário mensal pelo Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social – BPC. Do total de 409.202 beneficiários com até 18 anos, em 2010, 216.890 (53%) estavam na escola. O número significa um progresso, pois em 2008, o percentual era de apenas 29%.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por esses pais, algumas iniciativas já estão sendo tomadas por instituições de ensino. Como é o caso do Colégio Estadual Victor Civita, localizado no Dique do Tororó. Desde 2010 o colégio passou por algumas adaptações para assistir melhor a alunos surdos. A equipe docente da instituição teve aulas de Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e recebeu alguns alunos da Associação de Pais e Amigos de Deficientes Auditivos do Estado da Bahia – APADA.
Nessa época, algumas pessoas da associação foram ao colégio para conversar com os funcionários e esclarecer um pouco de como é a realidade dos deficientes auditivos e de como eles enxergam o mundo. A direção da instituição também convocou um professor surdo para dar aulas de libras no próprio colégio, aos docentes e funcionários que se interessaram.
Segundo a coordenadora pedagógica do Victor Civita, Ednalva Cunha, a inclusão no colégio vem se desenvolvendo a cada dia e sempre foi bem recebida por funcionários, professores, alunos e pais. “A princípio os surdos e seus pais temiam estar em uma escola regular. Mas apesar de despertar a curiosidade, eles foram bem recebidos por seus colegas e a adaptação aconteceu naturalmente,” afirma.  
 Se a escola é o espaço da convivência coletiva, deve ser o espaço de todos, da diversidade, entendida como fator primordial da condição humana, que deve ser respeitada. A escola deve estar aberta para a disseminação de um conhecimento libertador, não pode e não deve ser entendida como um lugar onde devem ser perpetuados e petrificados conceitos cheios de equívocos, preconceitos, estereótipos e estigmas”, conclui Anderson.


Inclusão no Brasil

A inclusão de pessoas com deficiência em vários setores da sociedade brasileira é uma realidade. Segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE 2000, o número de pessoas com deficiência no Brasil era de cerca 24 milhões de pessoas ou 14,5% da população brasileira. Já em 2010, o censo constatou um crescimento do número de pessoa com deficiência, cerca 45,6 milhões de pessoas.
No Brasil, 29 milhões de crianças até os 9 anos de idade declaram ter algum tipo de deficiência, segundo o IBGE.