quinta-feira, 14 de março de 2013

O direito de ir e vir do Soteropolitano


Havia uma pedra no meio do caminho. Já dizia o grande poeta Carlos Drummond de Andrade. No caso de Salvador as pedras ganham outro sentido: no meio do caminho havia carros, lixos, buracos e feirantes irregulares tornando restrito o espaço do pedestre.  E isso nos tira o encanto e a poesia de andar pela cidade...



Basta um simples passeio pela cidade para flagrar irregularidades e falta de respeito com os pedestres em Salvador. Praticamente, em quase todos os  pontos da cidade percebemos uma grande quantidade de carros tomando não só as ruas, o que dificulta o trânsito, como também as calçadas, colocando em risco a vida de muitos pedestres. Como se não bastasse vendedores ambulantes e proprietários de bares também contribuem para estas questões que atrapalham o direito de ir e vir do soteropolitano. Pontos de ônibus em lugares não estratégicos e muitas obras sendo realizadas também entram na lista que criam  o desconforto de andar pela cidade.

As vagas dos estabelecimentos e instituições são insuficientes para suprir a demanda de automóveis. Salvador dispõe de um pouco mais de 7.508 vagas de estacionamento, incluindo a Zona Azul, os estabelecimentos particulares e os locais de posse da Superintendência de Trânsito e Tráfego de Salvador (Transalvador). Estima-se que a cidade possua aproximadamente uma vaga para cada 94 veículos
 A falta de regularização da prefeitura com esse crescimento exacerbado de veículos acaba prejudicando as pessoas que andam pela cidade. “Salvador não é uma cidade para se caminhar, enfrentamos vários problemas como buracos nas calçadas, lixos e muitos carros que tomam espaços que são nossos”. Relata o estudante de fisioterapia Lucas Gualberto (21) que gosta de caminhar pela cidade em dias de folgas. “Sem contar no medo de ser assaltado”. Conclui.
Bar do Chico na Barra

As principais causas para esses atos são a falta de estacionamentos por partes dos donos de estabelecimentos (vide o que ocorre no bairro do Rio Vermelho nos finais de semana e nas imediações da av São Rafael em dia de jogos no estádio do Pituaçu ), condomínios sem vagas e comércio irregular. Em alguns pontos da cidade notamos que há irregularidades por parte dos comerciantes. Como no caso de lojas especializadas em serviços de som e películas para carros, ali na Vasco da Gama, que utilizam o passeio para praticar os reparos nos automóveis. Outro ponto onde a calçada é tomada é no bar do Chico, ali na Barra na rua Recife 86, cadeiras são colocadas nas ruas e nas calçadas induzindo os pedestres a andarem pela rua, impossibilitando de usarem a calçada.

Os pedestres que trafegam pela Avenida Paulo Sexto região nobre em Salvador reclamam que precisam dividir o espaço na rua com os carros pela impossibilidade de trafegar tranquilamente pela calçada. Para conseguir seguir o trajeto, muitos se arriscam caminhando pela via onde circulam regularmente ônibus, carros e motos.
Pedestres utilizando a rua por falta de passagem

Dona Maria (53) foi uma das pedestres que presenciei cortando caminho pela via dos veículos e  ao perguntá-la sobre essa dificuldade ela me relatou a dificuldade: “ se você reparar aqui nessa avenida só tem carro de gente "graúda", gente rica, você acha que eles estão preocupados com nós, pobres que usamos a rua.” Dona Maria se referia a dezenas de  carros de luxos que ficam estacionados na calçada da avenida. E ainda nos conta que certa ocasião quase foi atropelada por um ônibus quando tentou passar. “Quem está de carro se sente ainda mais  forte e poderoso que nós que andamos a pé. Pra Deus somos todos iguais”. Finaliza.

Na tarde de ontem (13) percorremos trechos das cidades para localizarmos irregularidades  dos motoristas ao estacionar. No trecho da Av, Paulo Sexto, próximo ao colégio militar, encontramos 14 carros estacionados sobre as calçadas obstruindo completamente a passagem do pedestre. Sem contar alguns outros que estacionaram sobre a calçada, mas permaneceram dentro do veículo, aguardando, enquanto seus passageiros estariam dentro das lojas. Perguntei ao senhor Moacir (37) se isso era certo e ele respondeu: “sei que estou errado, mas a loja tinha que possibilitar estacionamento para os seus clientes, não concorda? Procuramos a proprietária da loja e ela não quis se pronunciar sobre o assunto. Falta regularização por parte da Transalvador que orienta que  o veículo que estiver  em calçadas ou faixa de pedestres pratica   uma multa grave e o proprietário do veículo recebe uma multa no valor de R$127,69.
Av. Paulo Sexto Pituba/Foto Arquivo Pessoal

Outro ponto em questão são os vendedores ambulantes que tomam boa parte da passarela que permite o  acesso da rodoviária ao shopping Iguatemi. Em horários de grande fluxo fica quase impossível trafegar por aquele espaço. “Fico com receio de ser assaltada, aqui, como já aconteceu com uma colega”. Relata Rosicleide  (24) que trabalha numa das lojas do shopping. A passarela fica completamente obstruída com bolsas, sapatos e ursos de pelúcias estendidos no chão e os vendedores tomam conta da passagem que seria pra ser usada pelo pedestre. Em alguns casos, observamos os fiscais da prefeitura, mas eles não quiseram se pronunciar. “Não podemos falar a respeito” diz um senhor de costas que não quis se pronunciar.

Avenida São Rafael pontos lotados e pedestres nas ruas
Também é comum em algumas regiões da cidade  os pontos de ônibus estreitos que, com a aglomeração de gente impossibilita quem apenas está de passagem. Caso como esse acontece na Av São Rafael em frente o Supermercado Bom Preço. Dona Jucinei que é acostumada a pegar ônibus todos os dias nesse ponto no relata: “já teve uma vez que a moto jogou a menina longe,bem aqui na nossa frente enquanto ela tentava passagem indo pela rua, já que por aqui era impossível. O ponto é muito apertado.”conclui
A questão é que o acesso construído para os carros, eles mais uma vez, coloca, claro, em último lugar ou lugar algum a opção de deslocamento do pedestre e do ciclista. Minto, ambos podem sim seguir em frente se optarem em caminhar pela pista e, nesse caso, teriam que pular as “pedras” que foram criadas para impedir justamente que ele tenha a mobilidade de viver e amar a cidade que habita. Antes é preciso que as autoridades cuidem e criem uma cidade com mobilidade para todos.


Por Antônio Athanazzio

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